A crise veio obrigar as famílias portuguesas a reajustarem os seus padrões de vida e de consumo. No chamado “tempo das vascas gordas”, era grande o incentivo ao consumo, suportado pelas manifestas facilidades de acesso ao crédito, apenas quebradas com a chegada da Troika.
O crédito e a necessidade de poupar dinheiro
A aparente saída da crise, trouxe com ela o fim da austeridade, facto que verificamos na maior abertura das instituições financeiras para voltarem a concederem crédito. Contudo, defendemos que, depois dos sacrifícios que passámos, devemos ter redobradas cautelas na hora de contrair novo endividamento.
O recurso ao crédito não é uma coisa má por natureza, já que, quando utilizado com critério e inteligência, pode ser um bom mecanismo de poupança. Neste artigo, falaremos precisamente das ferramentas do Crédito Consolidado e da Renegociação de Créditos, como possíveis caminhos de Poupança.
O que significa consolidar créditos?
Quando falamos de Consolidação de Créditos, falamos da possibilidade de fazer aquilo a que popularmente chamamos de “juntar todos os créditos num só”. Neste mecanismo, um determinado Banco (ou Instituição Financeira), aceita emprestar-nos o montante equivalente à soma de todos os nossos créditos, permitindo-nos liquidar todas essas responsabilidades, passando a ter apenas um único crédito e uma única prestação, facto que se consubstancia em reduções mensais que podem chegar aos 60%.
Contudo, como o próprio nome indica, um crédito consolidado não deixa de ser isso mesmo: um Crédito… Queremos com isto dizer que os critérios de aprovação de um Crédito Consolidado, continuam a ser os mesmos critérios de aprovação de um qualquer outro crédito, nomeadamente no que à Taxa de Esforço ou a situações de incumprimento reportada no Banco de Portugal, diz respeito.
Mantêm-se os critérios de aprovação de crédito dos bancos
Aqui, devemos referir que o facto de estarmos a conseguir pagar todas as nossas prestações até à data, não é, por si só, garante de aprovação de um Crédito Consolidado. Não nos podemos esquecer que, para além dos nossos objetivos de redução de encargos com créditos, as instituições financeiras continuam a ter os seus critérios de análise, critérios esses que são redobrados na hora dessas instituições assumirem o risco de financiar toda a nossa dívida. De facto, se até aqui o nosso risco estava “espalhado” por diversos Bancos e Financeiras, quando consolidamos os nossos créditos, o risco passa a ficar todo concentrado num único Banco, facto que deve ser tido em consideração.
Apesar de poder dilatar o prazo da nossa dívida (tipicamente, de 8 a 10 anos), o Crédito Consolidado, pode oferecer taxas de juro mais reduzidas do que as praticadas em algumas operações de crédito, facto que se substancia numa poupança interessante. De apontar igualmente que, quando estamos a consolidar, por exemplo, Cartões de Crédito em que fazíamos o chamado “pagamento mínimo mensal”, reduzimos substancialmente o seu prazo, já que, se continuássemos a fazer as tais liquidações mínimas mensais, levaríamos mais de 20 anos para ver os nossos cartões saldados.
É possível amortizar antecipadamente a grande maioria dos créditos consolidados
Por outro lado, são já algumas instituições financeiras que permitem a chamada “amortização antecipada” do crédito consolidado, sem penalização, facto que relega para segundo plano a questão do prazo inicial do empréstimo.
Contudo, devemos igualmente referir que o Crédito Consolidado pode apresentar igualmente algumas desvantagens, nomeadamente a de não nos permitir escolher os créditos que queremos consolidar, “obrigando-nos” a juntar TODOS os créditos (mesmo aqueles que tenham já taxas de juro apelativas ou que estejam quase a terminar). Por outro lado, ao consolidarmos os nossos créditos, é legítimo que as restantes instituições que viram os seus créditos liquidados pela via da consolidação, nos bloqueiem o acesso ao crédito, facto que pode ser igualmente visto como uma desvantagem.
A renegociação de créditos é um caminho alternativo
A Renegociação de Créditos, pode ser vista como um caminho alternativo ao da Consolidação, uma vez que continua a garantir a redução dos nossos encargos mensais com créditos.
Em alguns casos, a renegociação pode ser mesmo preferível à consolidação, nomeadamente naquelas situações em que não nos interessa consolidar algum crédito em particular, seja por este ter já uma taxa de juro apelativa, ou apenas por estar quase a atingir o seu prazo de liquidação. De facto, ao contrário do que acontece com a consolidação, na renegociação podemos escolher os créditos que nos estão a causar maior sufoco mensal, atuando apenas sobre esses créditos específicos, deixando os demais de fora da operação.
No que aos cartões de crédito diz respeito, defendemos que pode ser preferível renegociar os mesmos, já que, ao abrigo dos mecanismos de renegociação, podemos conseguir taxas de juro e prazos bastante mais apelativos que os praticados na consolidação.
Renegociar não implica “manchar o nome” no Banco de Portugal
Algumas pessoas têm a ideia de que, após renegociarem os seus empréstimos, tal facto será reportado ao Banco de Portugal (BdP), o que se refletirá no bloqueio de acesso futuro ao crédito. A este respeito, importa referir que a lei é muito clara, proibindo taxativamente os Bancos de fazerem estas comunicações, nos casos em que os clientes não tenham prestações em atraso. Ou seja, caso não tenha prestações em atraso, não é o facto de renegociar determinado crédito que o impedirá de obter créditos futuros (já nos casos em que tenha prestações em atraso, caso renegoceie esse crédito, o respetivo código reportado ao BdP deixará de figurar como Incumprimento para passar a figurar como Renegociado).
Por outro lado, a renegociação de créditos apresenta a vantagem de estar igualmente acessível àquelas pessoas que, por algum motivo, deixaram de conseguir pagar as suas prestações. De facto, mesmo em situações de incumprimento, os Banco e Financeiras são hoje obrigados a abrir a porta à negociação – através do PERSI Procedimento Extrajudicial para Resolução de Situações de Incumprimento – estudando eventuais caminhos de alívio nas prestações mensais dos seus clientes. Contudo, o facto de abrir a porta à negociação, não implica que o Banco seja obrigado a alterar os contratos, nomeadamente nos casos em que, mesmo reduzindo as prestações, os clientes manifestamente continuarão com taxa de esforço elevada e, como tal, sem capacidade para cumprir com os seus contratos.
Em Conclusão
Como vimos, a crise veio obrigar as famílias a reajustarem os seus padrões de vida, facto que muitas vezes se consubstancia na necessidade de reduzir os seus encargos com créditos. De facto, mais do que pensar em poupar na água, na luz ou nos seguros, o caminho da redução dos encargos com prestações de crédito é aquele que surte efeitos mais imediatos e expressivos.
Neste campo, a Consolidação de Créditos e a Renegociação, assumem-se como duas fortes ferramentas que temos hoje ao nosso dispor para Poupar. Como vimos, ambas apresentam vantagens e inconvenientes, pelo que é importante analisar cada situação em concreto, antes de decidir por qual destas vias optar.