Poupança

Conhece o método dos potes?

Teoria dos Potes
Written by Gisela Marques

Ao longo do tempo vamos percebendo que o segredo da vida está também nos pormenores. E a verdade é que o chamado ‘Método dos Potes’ na organização financeira é útil tanto para quem tem poucos rendimentos, como para que tem já rendimentos consideráveis. Este é o método que o coaching financeiro usa para organizar e fazer crescer o seu dinheiro.

Mesmo que lhe sobrem 10 euros ao fim do mês, é nesses 10 euros que deve pegar para redistribuir por várias áreas essenciais ao seu equilíbrio de vida.

Ao analisarmos o comportamento financeiro que boa parte dos consumidores, percebemos que muitas pessoas não sabem bem onde gastam o dinheiro. O dinheiro é por vezes visto como uma realidade cinzenta, com a qual custa a lidar. Mas, acredite, isto é para todos, mesmo num país com salários tendencialmente baixos.

Quem não mede, não gere

Muitas vezes preferimos esconder a cabeça na areia e responder à ideia feita de que nunca teremos dinheiro ou que o que é nosso só diminui. É como quando não queremos arrumar o que está desarrumado ou adiamos tarefas eternamente. Este fenómeno que nos leva a quase ‘ter medo’ da tarefa é comum a milhares de pessoas, em muitas áreas de vida. Se não começarmos, os resultados nunca vão parecer. Mas a boa notícia é que é possível organizar exactamente o mesmo dinheiro, fazê-lo crescer e começar a cumprir objectivos. E, em boa verdade, o dinheiro de base que temos é o mesmo, sejamos ou não capazes de lidar com os números.

É também preciso ganhar uma perspectiva positiva do dinheiro que – não nos deve definir como pessoas – mas serve para realizar coisas importantes para a vida de qualquer um.

Alcançar o mínimo de liberdade financeira é importante e é realmente possível para muita gente – mas é essencial trabalhar nessa ideia e acreditar no espírito da poupança, das metas e da redistribuição. Lembre-se de uma máxima importante: quem não mede…não consegue gerir.

Como se processa?

O esquema funciona com seis potes e o que eles representam na vida do indivíduo. Cada um possui uma percentagem relativa a alguma área do quotidiano e deve ter uma determinada quantia, não importa quais sejam os seus rendimentos.

Pote1: Pote Base

Este método para economizar determina que o primeiro recipiente seja destinado às necessidades básicas. Essa parte da vida deveria representar idealmente 55% do seu orçamento mensal, seja qual for a sua actividade profissional. O valor depositado aqui deve ser usado para renda de casa/prestação bancária, água, luz, alimentação, meios de transporte (inclui combustível), dívidas e impostos. São os gastos fixos. Se formos realistas, sabemos que esta percentagem muitas vezes não se aplica porque, para uma grande faixa da população, o valor da renda de casa ultrapassa a metade do orçamento. Nesse caso, use outro método. Limite-se a pagar tudo o que é obrigatório e subdividir o restante bolo (mesmo que sejam 10 euros distribuídos pelos restantes potes). Vai 10 por cento para todos os outros, com excepção de um deles, onde, se tiver problemas financeiros, coloca apenas 5 por cento, a depender dos casos.

Pote 2: Pote da Liberdade Financeira

Esta é a sua poupança de longo prazo, aquela que nunca deve movimentar. Serve para apoiar grandes investimentos, como casa, carro, viagens grandes, etc., e para se manter precisamente como poupança contínua para objectivos de longo prazo. A ideia é incluir aqui aplicações financeiras (com mais ou menos risco, consoante o seu perfil financeiro) ou um Plano Poupança Reforma, por exemplo, e conquistar a liberdade financeira ao longo de anos.

Pote 3: Pote das Reservas (ou da Renovação)

Aqui deveria acumular entre 3 a 6 meses de salários e não estar satisfeito antes que isso aconteça. Este pote serve para despesas maiores do dia a dia, como a substituição de electrodomésticos, arranjo do carro, despesas de saúde extra ou qualquer problema não previsto, mas que, com alguma frequência acontece na vida de toda a gente. Esta poupança pode ser necessária em poucos dias ou horas, pelo que não deve estar guardada em contas difíceis de resgatar. Como a ideia é termos uma perspectiva positiva e de abundância relativa ao dinheiro, há algum coaching que recomenda que lhe dê outro nome – sugerimos da ‘renovação’ ou das ‘coisas novas’, ao invés de ’emergências’, que tem uma conotação menos agradável – para encarar este pote como o das coisas novas que vai ter para usufruir.

Pote 4: Pote da Educação

No século XXI a formação contínua e para a vida é uma realidade. Pense sempre em evoluir profissionalmente e em tirar formações por puro gosto pessoal ou até para se desafiar a conhecer melhor outras áreas profissionais do seu interesse. Nunca se esqueça deste pote e vá também espreitar o preço daquele workshop que quer fazer há tanto tempo.

Pote 5: Pote da Solidariedade

O dinheiro é uma energia que pode ser muito positiva, mas se não é partilhada…não estamos a contribuir para a comunidade a que pertencemos. Tudo o que não circula ou serve apenas e só para fins próprios tende a estagnar. Pense que é fundamental ir acumulando uns ‘trocos’ para ajudar alguma causa que lhe seja mais próxima, alguma associação ou até alguém que conheça que passa por uma fase pior. Tal como já é possível ajudar com o seu IRS, através da consignação, por pouco que coloque neste pote, pense em metas para o que vai acumulando. Ao fim de 6 meses ou 1 ano já poderá doar uma quantia ou usá-la para adquirir algo para oferecer.

Pote 6: Pote do Lazer

O lazer tem uma importância fundamental. Sem momentos de escape que são basilares para o equilíbrio físico e mental, nem sequer trabalhará bem. E mesmo em épocas em que resta muito pouco e se torna quase impossível ‘pagar’ momentos de lazer, deve fazer um esforço para procurar actividades culturais de entrada livre (há muitas, é uma questão de procurar nos guias próprios), mas deve também amealhar de modo a poder – nem que seja ao fim de uns meses – escolher uma coisa de que goste e que possa pagar. Cabe-lhe a si escolher a forma como essa quantia será gasta: cinema, concerto, teatro, restaurante ou passeio, por exemplo.

Como gerir, na prática?

A esta altura pode pensar ainda que isto não é para si… Mas é mesmo para a grande maioria. Se lhe sobrarem 10 ou 20 euros e os for dividindo por potes, ao fim de 3 ou 4 meses, começa a poder fazer pequenas coisas – nem que seja uma ida ao cinema, para se distrair um pouco.

Os potes – ou envelopes – que algumas pessoas usam realmente no dia a dia, colocando neles quantias de dinheiro e facturas, não são práticos para toda a gente. Os potes do lazer e o da solidariedade são talvez os mais fáceis de ter em casa. Mesmo assim, por questões de disciplina, deve tê-los longe de si e da tentação de lhes mexer antes do tempo. Este método exige disciplina…mesmo nos potes mais leves, ou seja, os que enche e esvazia facilmente para a vida prática. Mas tem sempre de acumular, claro está.

Outra solução:

Uma solução para contornar isto é abertura de conta em bancos com contas à ordem sem comissões de manutenção, que actualmente a banca oferece em variedade. Neste caso, se tiver 3 contas e colocar, por exemplo, dois potes em cada uma, podia fazer sentido. De todas as poupanças, só a da liberdade financeira poderá ser colocada a prazo, a depender dos prazos e dos seus objectivos.

Outra solução será abrir conta em bancos apenas online, bancos seguros e creditados no sistema financeiro, e que têm aplicações digitais que o ajudam a criar subdivisões dentro da sua conta. Por exemplo, o N26 tem uma App que lhe permite criar ‘espaços’ separados, para gerir melhor as suas finanças. Neste caso, com a conta gratuita não pode criar os espaços todos que quer mas, se quiser ter os vários espaços que o ajudam a orientar-se, pode pagar cerca de 10 euros mês (e tem uma série de seguros associados). Se não quer essa despesa, pode sempre acumular as 2 soluções gratuitas: uma conta tradicional sem despesas de manutenção, mais a conta gratuita online.

Este é um excelente método para levar para a vida, tal como para aplicar na educação financeira de gente de todas as idades. Experimente e veja os resultados.

Sobre o autor

Gisela Marques

Gisela Marques é formada em comunicação social. Trabalhou sobretudo na imprensa escrita na área cultural, tendo passado pelos universos da edição e do audiovisual. Faz crítica especializada para a imprensa e escreve na Carteira sobre temáticas diversas, da Cultura às Finanças Pessoais.

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