Opinião

Quais as causas da crise?

Written by Gisela Marques

Características não são explicação:

Há traços de fundo que já cá estavam quando a economia estava a crescer bem e que permaneceram quando a economia esteve a crescer mal. O facto de estarmos situados numa determinada zona da Europa, o facto de termos um problema de educação há muito tempo, o facto de termos determinados traços culturais… Não quer dizer que não sejam um defeito, ou que não estaríamos melhor se não os tivéssemos, mas já atravessamos excelentes períodos de crescimento económico assim. Quando a explicação da nossa situação é feita a esse nível, não estamos a dizer nada de útil – isso são características, não são traços estruturais.

A fragilidade financeira:

Temos é uma consequência deste ciclo de desenvolvimento que começou com a entrada no Tratado de Maastricht em que nós, perante a descida drástica das taxas de juro nos deixámos endividar, e criámos uma fragilidade financeira no país que não tínhamos. Éramos um país equilibrado no princípio da década de 90. Esse desequilíbrio financeiro ainda cá existe. E é paralelo com o que aconteceu no mundo inteiro, com o Subprime, etc. É a mesma doença, mas aqui foi particularmente extremada até por causa do euro e várias questões orçamentais que nos colocaram na parte da frente da crise europeia e mundial.

O capital externo não resolve os problemas:

Essas questões ainda não foram resolvidas. Como conseguimos evitar as péssimas consequências que teria tido um colapso a sério, graças à política monetária de injecção de liquidez em grandes quantidades – que o banco central tem e continua a ter – os custos foram suportados e não houve uma derrocada como nos anos 30 do século passado. Isso salvou-nos. De outra forma o país, e o mundo, teria arcado com consequências que ainda nem conseguimos bem medir… Mas teve uma consequência negativa, que é confundir a anestesia com a cura. Não doeu e por isso está resolvido…essa é a atitude dos dirigentes políticos e da população em geral. Vamos voltar aos direitos que nos trouxeram à crise anterior. E é essa atitude que não é possível, porque é preciso aumentar muito a nossa capacidade de produção – e o nosso investimento que, pelo contrário, está a cair – para conseguir suportar os tais níveis que agora queremos recuperar e que não são recuperáveis.

Sobre o autor

Gisela Marques

Gisela Marques é formada em comunicação social. Trabalhou sobretudo na imprensa escrita na área cultural, tendo passado pelos universos da edição e do audiovisual. Faz crítica especializada para a imprensa e escreve na Carteira sobre temáticas diversas, da Cultura às Finanças Pessoais.

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