Como Reduzir as Tentações de Consumo
O consumo tem muito de racional. Mas a sua componente emocional é muito forte. Consumimos por diversos motivos e as estratégias de marketing exploram a componente emocional. Mas como conseguimos reduzir as tentações do consumo? Como evitar gastar dinheiro que sabemos que depois nos arrependeremos?
Qual o meio de pagamento que escolhe?
Pode parecer pouco intuitivo mas o meio de pagamento da nossa preferência pode ser um incentivador do consumo. Isto porque quando consumimos temos duas forças opostas que interagem:
- Prazer do consumo – O consumo dá prazer. Consumimos porque precisamos ou consumimos para satisfazer alguma necessidade menos essencial mas que dá o colorido especial a nossa vida. Este facto traz consigo prazer. E isso não tem nada de errado, antes pelo contrário.
- Dor do pagamento – Pagar traz consigo a dor. Olhamos para o pagamento como algo doloroso porque o dinheiro que destinamos ao consumo custa-nos bastante a adquirir. Temos de trabalhar e trabalhar dá… trabalho.
O grau de compromisso entre o prazer do consumo e a dor do pagamento é fundamental para definir se vamos consumir mais ou menos. Se vamos gastar mais do que podemos ou se estamos a gastar o adequado.
Como aumentar o compromisso?
A escolha do meio de pagamento é determinante para definir aquele compromisso:
- Dinheiro – Consumimos e pagamos ao mesmo tempo pelo que o compromisso é imediato;
- Cartão de crédito – Consumimos hoje e pagamos no futuro;
- Pré-pagamento – Pagamos agora e usamos no futuro.
Temos aqui três formas distintas de pagar pelo consumo que fazem toda a diferença. Se estiver habituado a comprar a pronto, com recurso a dinheiro, irá sentir com grande impacto a dor do consumo. Assim, consegue o critério para a sua decisão será muito mais rigoroso na medida em que nota de imediato as consequências das suas decisões.
O cartão de crédito é muito enganador!
Pagar com recurso ao cartão de crédito tenderá a aumentar em muito o consumo e o arrependimento. Como não notamos o impacto das nossas decisões no imediato temos um grande incentivo a gastar dinheiro. Gastamos e não sentimos. E depois, quando formos pagar, o valor da fatura será uma mistura de diversas despesas, que ocorreram em várias alturas no mês. Uma confusão que existe deliberadamente para reduzir o compromisso dor/prazer que falamos anteriormente.
Sendo certo que quando bem utilizado o cartão de crédito tem bastantes mais valências e vantagens potenciais do que o cartão de débito, também é certo que não somos robots. Facilmente somos vencidos pelas tentações do consumo e gastamos mais. E está comprovado que as compras com cartão de crédito promovem o aumento das despesas. E nunca se esqueça que se comprar a crédito o produto vai ficar mais caro pois terá de suportar juros.
O pré-pagamento é pouco intuitivo mas dá muito mais prazer
Na lógica do compromisso que falámos anteriormente surge a terceira forma de pagamento que é pagar antes de consumir. Tendemos a desconsiderar esta alternativa, especialmente numa sociedade que se habitua a consumir a crédito. No entanto, em termos emocionais, o pré-pagamento é a forma mais interessante de pagamento. Isto porque nos permite beneficiar do prazer do consumo como se o consumo fosse gratuito. Confuso?
Diversos estudos académicos que abordam o tema da contabilidade mental têm-se debruçado sobre o pré-pagamento. Enquanto humanos tendemos a valorizar bastante o presente, desvalorizar o futuro (porque é longínquo) e rapidamente esquecemos o passado. Assim, se pagámos algo no passado acabamos por nos esquecer e podemos usufruir do consumo sem pensar no pagamento.
Inversamente, pagar viagens a crédito é capaz de ser dos maiores disparates em termos psicológicos ou emocionais. Isto explica-se pela mesma lógica do exposto acima. Na prática, temos o prazer da viagem mas no dia a seguir a voltar temos de começar a pagar por algo que já usufruímos. E isto custa. Custa tanto como a situação em que já recebemos por um trabalho. Daí que os esquemas de remuneração sejam muito assentes na lógica primeiro trabalhas depois recebes. Porque, mais uma vez, tendemos a desconsiderar o passado. Vivemos para o presente.
Duas estratégias para o ano que começa
Para o ano que começa sugerimos duas estratégias que irão ajudar em muito a sua poupança. Em primeiro lugar, sugerimos que construa um orçamento familiar que lhe permita planear o seu próximo mês, evitando sobressaltos e endividamento. Em segundo lugar, crie o hábito de fazer as suas compras a dinheiro ou com recurso ao cartão de débito. Deixe o cartão de crédito em casa. Se já criou este hábito, sugerimos que pense na lógica da consolidação de créditos ou da renegociação para cortar o mal pela raiz.